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      das pequenas coisas e outras naturezas

                cine-instalação/3 projeções/9'

         Sobre Das Pequenas Coisas e Outras Naturezas, de Giovana Mastromauro

 

São três projeções para dois olhos e uma visão, dois ouvidos para uma só audição, e o que primeiro vemos são as folhas no chão, e ouvimos os sons de nossos passos sobre elas...

Sim, tudo começa pelo tato, único e ampliado: quando adentramos no espaço em que

acontece Das Pequenas Coisas e Outras Naturezas, tocamos com os pés folhas secas de árvores espalhadas pelo recinto, por todo ele... e antes mesmo do espectador reconhecer nos vídeos as imagens e os sons de crianças que compõem toda a narrativa desta obra,inicialmente tocamos a natureza ali presente. Nesta ambientação “natural”, nosso corpo é recebido e de imediato percebido, e esta é a forma que Giovana Mastromauro encontrou para permitir a imersão sensorial de cada participante desta obra – no caso dos adultos, requisito ideal para conhecerem um pouco mais da infância, ou se lembrarem dela.

É assim que essas imagens, conforme a disposição projetada ao redor de todo o espaço, interagem com nosso olho-ouvido em harmonia com o cheiro da natureza que acolhe o espectador, porém remetendo à ambientação presente nas imagens que já se movimentam e, também internamente, começam a mexer com nossa sensibilidade e a nos deslocar, agora, para dentro dos vídeos, para perto destes momentos em que a criança interage com seu próprio mundo.

Daí a disposição desta instalação trazer muito daquilo que Jordi Carmona Hurtado diz

sobre “emancipação da infância”, e que vale para cada um de nós, pequenos e grandes: “O artista tem necessidade de igualdade”, sendo “a lição emancipadora do artista (...) a de que cada um de nós é artista, na medida em que adota dois procedimentos: não se contentar em ser homem de um ofício, mas pretender fazer de todo trabalho um meio de expressão; não se contentar em sentir, mas buscar partilhá-lo”. Já no pequeno livro de Mariela Mei sobre histórias ocorridas no Thema, “30 Anos de Significâncias: em busca de achadouros” (2017), achamos um contexto próximo a este, descrito com precisão: “A análise de problemas e a busca por soluções fazem parte do dia a dia do ser humano, inclusive dos mais pequeninos”. Reflexo das múltiplas significâncias que o Thema tem criado ao longo dos últimos anos por meio de processos educativos coerentes com a atualidade, o significado maior desta instalação parece ser unir criança e adulto através de atributos humanos comuns, coisa que toda arte ou ciência empenhada nas experiências pedagógicas se esforça por fazer: qualquer ser humano/espectador sai dali com os sentidos completos, porque o gosto que fica (o quinto sentido que faltava despertar, o paladar!) é um sabor de relação natural entre os sentidos de todos os participantes da obra: os “coadjuvantes” que perfazem os vídeos com a sensibilidade de suas ações, e aqueles que as recebem sensivelmente. Este é o ponto alto Das Pequenas Coisas e Outras Naturezas, uma comunhão do eu com o outro, grande e diversificada como a natureza, e que ressignifica nossa relação com ela no mundo.

 

Marcelo Beso

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